terça-feira, 17 de julho de 2007

Wraygunn - Shangri-La

Ain't It Nice? - Wraygunn estão de volta para uma terceira viagem pelo imaginário do rock-n-roll americano, desta vez largaram o gospel para se centrarem no soul e na electrónica. Qualquer pessoa atenta ao anterior album da banda, o Ecclesiastes 1.11, não pôde deixar de reparar que a musica que introduz o album, a faixa Soul City, era essencial para nos introduzir ao paraíso punk-gospel que se iría seguir. Que dizer da faixa introdutória do novo Shangri-la? Explosão de soul electrónico, uma festa muito teen de gritos raivosos e de ironias deliciosas. Uma música muito bem sacada e que dá um impulso fundamental ao que está para vir. "Living by your rules makes me feel a tool (....) being wrong when everything is so right, oh ain't it nice?" (7.5)

Love is My New Drug - Raquel Ralha lidera este hino electrónico bem ao estilo soul/pop dos anos 80, acompanhando de forma alucinante os riffs minimalistas do Paulo Furtado. É a primeira música que nos faz sentir estar num mundo bem diferente do album anterior da banda. Desta vez, a percussão estonteante de João Doce foi reduzia ao mínimo e o sampler/turntable de Francisco Correia lideram o som. Os Wraygunn arriscaram num som bem diferente, num novo mundo sonoro (dentro do rock-n-roll americano) e conseguiram. Love is My New Drug é wild, faz-nos apetecer ir dançar para a rua com umas calças justas, uma camisa mal arranjada e o cabelo com brilhantina. (7.0)

She's a Go-Go Dancer - Primeira música de Wraygunn que não foi escrita pelo Senhor Paulo Furtado (pânico na audiência). Na verdade, este "dance hit" é da autoria de Francisco Correia, o João Doce do novo album. O conceito é muito simples, duas batidas que são acompanhadas (e não o contrário) por uma guitarrada abafada que se limita a encher o som. Na verdade, esta faixa de punk ou soul não tem nada, soa a um velho swing poeirento. Fica no ouvido, é verdade, mas nem por isso merece uma segunda audição, uma musica pobre (souless). Resulta melhor ao vivo. Moral da história, o Paulo Furtado escreveu sempre as músicas de Wraygunn por alguma razão. (4.0)

Love Letters From a Muthafucka - Estamos perante a "Juice" do novo album, é agressiva, rude, ultra-sónica e asneirenta. Todos os ingredientes para o primeiro grande hit da nova era dos Wraygunn. O arranjo de guitarra de Paulo Furtado está tão bom que o ouvinte sente a cabeça estalar de adrenalina. As vozes de Selma Uamusse e Raquel Ralha atingem os limites das suas cordas vocais ao tentarem acompanhar os riffs desenfreados de Paulo Furtado. O produto final fez-me lembrar Atari Teenage Riot, mas com bastante mais alma e com um sabor final bastante próprio que só os Wraygunn conseguem produzir. Sem dúvida um futuro clássico de Wraygunn. " I'm sick and tired of your twisted mail" (8.5)

Everything's Gonna Be Ok - O segundo single retirado do Shangri-La de Wraygunn é a melhor amostra do soul electrónico de que a banda de coimbra se enamorou. É carnavalesca esta faixa do album. Dá voltas e voltas alucinantes num carrossel decorado com uma guitarra preguiçosa com um toque muito country e com a voz viciante de Raquel Ralha que hipnotiza-nos com o refrão bem conseguido. Uma excelente música que certamente estará no "repeat" de muitos mp3 players, tal é o vício. "Yeah life is wrong, baby, and so are we" (7.5).

Hoola-hoop Woman - Segunda música que não foi escrita por Paulo Furtado (silêncio na audiência) e primeira balada ("There But For The Grace of God" não conta) de Wraygunn. É verdade, os rockers de coimbra decidiram cumprir a tradição e dar a caneta a Raquel Ralha para escrever a "música calminha" dos Wraygunn para passar em casamentos, baptizados e piscinas municipais. O resultado não é mau de todo. Holla-hoop Woman consegue criar um ambiente muito próprio que nos leva para os "back-yards" da America dos anos 60 e nos faz sentir leves e nostálgicos. Ganhava em ser mais curta e menos repetitiva. Não obstante, Raquel Ralha está de parabéns. "Take a look at her swinging, she can do it right" (6.5).

Rusty Ways - O verdadeiro Shangri-La (paraíso espiritual) dos Wraygunn. Chegámos ao momento alto do álbum. Nunca um álbum de soul foi premiado com um encore tão perfeito. A ideia foi simples. Porque não abandonar os instrumentos e deixar as vozes da Raquel e da Selma fazerem a música ? , sim, ouviu bem (wwoooww geral). Durante 2m e 30 segundos o ouvinte terá o prazer de se perder num ciclone de sons vocais que percorrem toda a escala sonora de alto a baixo. Alucinante. Magristral. Obrigado Wraygunn. (8.5)

Just a Gambling Man - Segunda balada de Wraygunn, mas esperem, não, desta vez é o nosso Paulo Furtado o autor e produtor e o resultado só podia ser um: Legendary Tiger Man. É verdade, o alter-ego de Paulo Furtado invade o Shangri-La de Wraygunn para nos dar uma lição de como fazer uma longa metragem simples mas com milhares de tons de preto e de branco. Esta música leva-nos para o back alley de um bar de Chicago nos anos 30, sentimos o cheiro a tabaco, o sabor a whiskey e o barulho dos jogos de cartas e das fichas de jogo. Tiger Man consegue mais uma vez deixar-nos sem palavras. É impossível ouvir esta faixa sem correr para o Digi-Pack do Masquerade (de Legendary Tiger Man) para o ouvir todinho logo que a musica acabe. "Just another man under a woman's spell" (9.0)

Lady Luck -
Voltemos ao rock-n-roll. Liguem as luzes de palco, apontem para Paulo Furtado e dancemos todos ao ritmo dos seus riffs clássicos. Não há absolutamente nada mais clássico rock que esta faixa do albúm. Directo e Eficaz. Um verdadeiro "filler", é pena. (6.5)

Work me Out - Soul, Soul e mais Soul. Work me Out é uma odisseia de boa disposição conseguida com a ajuda de uma melodia agradável e com uma letra convidativa. Selma revela nos últimos minutos o verdadeiro potencial da sua voz, bem ao estilo soprano. Work me Out é uma música para mostrar aos amigos, uma música para levar na mochila de verão. Uma injecção de "Wraygunn feeling". "Since I met your honey, I learned a brand new dance" (7.0).

Silver Bullets - Wow, os Wraygunn fizeram um Bond movie theme. Ao ouvir Silver Bullets não podemos deixar de imaginar o genérico de mais um filme do agente secreto britâncio. É um glam-rock divinal que nos faz compreender porque é que gostamos tanto de Wraygunn. Uma das melhores músicas de Wraygunn e ponto final. Para irritar quem se recusa a abraçar este Shangri-La. "I know the way you use mind games" (8.0).

Boom-Boom Ah Ah - Cá estamos nós, na recta final desta viagem espiritual, o leitor adivinhou, também chegámos ao seu ponto máximo, o seu clímax. Esta faixa reúne todas as influências de Wraygunn num única canção de 4 minutos. Acid-jazz, country, soul, folk, ambience, electrónica e gospel. É a obra-prima dos Wraygunn, a razão de tão longa espera. O mais fascinante desta música é que ela não chega a arrancar, ameaça, ameaça mas nunca faz o que esperamos, surpreende-nos com mais uma sensação inesperada. Uma galeria do rock americano clássico. "If you don't move, baby, then your dead" (9.0).

No More, My Lord - Chegámos ao final de Shangri-La. É altura de tirar os sapatos de dança, a camisa suada e lavar o cabelo para lhe retirar a brilhantina. Chegou o momento de nos sentarmos de pés entre-cruzados num tapete velho e ..... e.... rezar. É verdade, o novo álbum de Wraygunn despede-se recordando as origens, o velho gospel. No More, My Lord é uma canção religiosa cantada por Selma Uamusse (com coro gospel) e acompanhada por um piano e guitarra de orquestra gospel. A produção foi de tal forma bem conseguida que não nos podemos deixar de sentir numa igreja no sul dos Estados Unidos a ouvir a missa de Domingo. Final perfeito para mais um excelente álbum de Wraygunn. (7.5).

Nota Final : (7.4)







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